terça-feira, 13 de janeiro de 2015
Nem todas as entidades estão fora de nossos passos, desprovidas de pele, de cachos esbranquiçados. Há aquelas que cantam nos tablados para mostrar que lá do alto o ser humano é ouvido e propagado pela voz e pela face em seus já envelhecidos traços. Há entidades que cantam porque dão à luz a nossa própria voz calada. Maria Bethânia fala o que não sabemos falar, canta o que não ousamos cantar. Maria Bethânia é deusa, entidade cuja mortalidade nos chega sob um sopro imortal daquilo que, censuremos ou não, almejamos lá no fundo da alma: Ela revela sob o pulso das palavras que propaga: "...não me arrependo de nada, nem do bem que me fizeram, nem do mal, pra mim tanto faz..." e sangramos vida por um momento numa forte eternidade. Saravá, Maria de todos nós.
sábado, 3 de janeiro de 2015
Oráculo e um abraço:O]
Em meu ofício ou arte taciturna
Em meu ofício ou arte taciturna
Exercido na noite silenciosa
Quando somente a lua se enfurece
E os amantes jazem no leito
Com todas as suas mágoas nos braços,
Trabalho junto à luz que canta
Não por glória ou pão
Nem por pompa ou tráfico de encantos
Nos palcos de marfim
Mas pelo mínimo salário
De seu mais secreto coração.
Escrevo estas páginas de espuma
Não para o homem orgulhoso
Que se afasta da lua enfurecida
Nem para os mortos de alta estirpe
Com seus salmos e rouxinóis,
Mas para os amantes, seus braços
Que enlaçam as dores dos séculos,
Que não me pagam nem me elogiam
E ignoram meu ofício ou minha arte.
(Dylan Thomas)
(tradução: Ivan Junqueira)
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