sexta-feira, 30 de março de 2012


Acabei de ler o livro “O Lobo da Estepe” de Hermann Hesse (Esta edição é de 1972 e o texto é de 1951). Senti conflitos de um homem de 50 anos, me diverti com suas descobertas e me arrepiei com seus pensamentos suicidas. É um livro para alguém maduro, ele mesmo disse no final deste. Mas entendo esta angústia de se sentir à margem de uma sociedade, talvez por eu ser artista. O tal Harry Heller é um escritor que critica as massas e a sociedade. Se sente um Lobo da Estepe, um abismo, um animal diferente dos homens e que conhece a solidão. No começo do livro, achei que não conseguiria chegar ao final, pois ele se perturba com seus próprios pensamentos e a morte o persegue, o caos domina e há muita tristeza e é um eterno solilóquio e ruminação. Um desassossego do homem desgostoso com sua própria vida. Mas eis que surgem os outros personagens e ele divide suas angústias com as situações que lhe são proporcionadas no livro. Ele convive, mesmo sem querer no começo, com um burguês professor e sua casa e depois com pessoas marginalizadas também, entre elas uma cortesã e um músico! Este lhe apresentará a chave para sua “cura”. O texto é carregado de simbologias divertidas como a imagem de um Goethe burguês pintado por autor desconhecido que lhe causa repulsa e um Mozart brincalhão que faz rima com a sua desgraça. O livro contém música, pois Harry é amante desta, ele cita diversos títulos clássicos que se o leitor conhecê-los a história passa a ser uma caixinha de músicas conhecida e se não conhecer, as músicas do imaginário guiarão alguns trechos da vida do nosso anti-herói. Tudo no livro tem significação e analogia. É um livro de um gênio, isso com certeza. Um cara que se importava com alguma coisa. Foi um exemplo da busca pelo espiritual novo dos anos 60. Ele fala de psicotrópicos e festas como redenções deste homem-lobo, incentivado por seus novos amigos artistas. Onde ele encontra a paz. Mas não defende este tipo de diversão pois Harry se julga muito durante sua história, ele simplesmente conta a vida de um homem triste que quer fugir da idéia de se matar. Mas ao mesmo tempo é tão preso a esta idéia que não se permite ser feliz e alegre. Hermann Hesse foi amigo de um discípulo de Jung, o que torna os símbolos e signos da obra ainda mais embazados por uma psicologia inovadora que ele acompanhou de perto. O livro é uma guerra dos eus de Harry Heller. Uma briga cruel entre o Lobo e o Homem. Entre o social e burguês contra a arte e a diferença. Uma luta do ego com a unidade do mundo. É uma experiência profunda para o leitor, um mergulho verdadeiro e que mistura a fantasia com o real de uma maneira única. Um livro que merece ser lido por todas as idades, mas será compreendido por poucas pessoas, pois o “Tratado do Lobo da Estepe”, o “Teatro Mágico” desta leitura é apenas para raros ou somente para loucos.

PS: Aquele grupo musical “Teatro Mágico- entrada somente para raros...” com certeza tirou seu título e inspiração inicial deste livro, pois na porta do Teatro que mudou a vida de Harry está escrito estas palavras: “Hoje a partir das quatro no Teatro Mágico/ Só para loucos/ Entrada ao preço da razão/ Para os raros somente”.

Abaixo o link do myspace do grupo paulista “Teatro Mágico” que eu particularmente adoro: http://www.myspace.com/teatromagico

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